Existe um mito famoso de que a língua é o músculo mais forte do corpo. Isso definitivamente não é verdade – não no sentido literal da palavra. Mas isso não deveria tornar a língua menos impressionante. Esse órgão muscular é vital para iniciar o processo digestivo guiando e moldando o alimento, assim como para sentir seu gosto e textura, para desenvolver a boca para criar a fala e, naturalmente, para beijar. Mas que músculo incomum é esse? E como ele se movimenta para cumprir suas diversas responsabilidades?

A língua é composta de fibras musculares esqueléticas. Ao contrário do músculo cardíaco ou do músculo liso dos órgãos e do sistema digestivo, o músculo esquelético pode ser controlado. Isso confere mobilidade à língua. Os músculos que passam por todo o órgão prendem-no aos ossos ao redor e criam o assoalho da cavidade oral. A membrana mucosa cobre o músculo esquelético e protege o corpo contra micróbios e patógenos.

A língua é um órgão digestivo acessório que, junto com as bochechas, mantém o alimento entre os dentes superiores e inferiores até que seja suficientemente mastigado. A língua também é um órgão de sentido períférico, que ajuda a sentir o gosto e responde à pressão, ao calor e à dor. A flexibilidade do órgão permite a fala.

Doenças da Língua
A inspeção da língua é de grande interesse semiológico, devendo-se observar tamanho, forma, mobilidade, coloração, umidade, pápulas, simetria e saburra.

Uma manifestação de anemia perniciosa ou uma carência de vitaminas podem provocar o avermelhamento da língua. A língua pálida e lisa (por causa da perda das suas saliências normais) pode ser conseqüência de uma ane­mia por deficiência de ferro. A primeira manifestação de escarlatina pode ser uma alteração da cor normal da língua, que adquire uma cor de morango e depois de framboesa. Embora as pequenas saliências em ambos os lados da língua sejam habitualmente inofensivas, uma protuberância num só lado pode ser cancerosa. As áreas vermelhas ou brancas inexplicadas, as feridas ou tumefações na língua (sobretudo se são indolores) podem ser indicativas de cancro e requerem uma investigação médica. A maioria das formas cancerosas da boca cresce nos lados da língua ou no pavimento da boca, mas quase nunca se desenvolvem por cima da língua.

As feridas na língua podem dever-se ao vírus do herpes simples, à tuberculose, a uma infec­ção bacteriana ou a uma fase incipiente da sífi­lis. As alergias ou as doenças do sistema imune também podem provocá-las.

Glossite e glossodinia
Glossite é a inflamação da língua caracterizada por perda das papilas filiformes, edema e co­loração avermelhada. Raramente é dolorosa e pode ser secundária a deficiência nutricional (niacina, riboflavina, ferro e vitamina E), reação alérgica a fármacos, desidratação e possibilidade de reações auto-imunes.

Glossodinia é a sensação de dor e queimação da língua, pode ocorrer na presença ou ausência da glossite. Está associada com diabetes, fármacos (diuréticos), reação alérgica ou substâncias irritantes como álcool, especiarias e tabaco. O tratamento consiste em achar o agente causal, mudar medicamento e parar de fumar. A glossidinia é, às vezes, manifestação de uma perturbação emocional e pode ser útil a administração de ansiolíticos.

Língua geográfica (glossite migratória benigna)
É uma afecção da língua, em especial na sua parte dorsal, de causa desconhecida e possível padrão hereditário. Caracteriza-se por várias placas eritematosas, despapiladas, circinadas, em geral indolores, com borda esbranquiçadas e ligeiramente elevadas. Apresenta um aspecto migratório, as placas eritematosas desaparecem de um local da língua e reaparecem em outro.

Devido à natureza autolimitada e geralmente assintomática desta condição, não é necessário tratamento. Porém, quando existem sintomas, o tratamento é sintomático e deve-se evitar ali­mentos cítricos e condimentados.

Hipertrofia papilar
O crescimento excessivo das papilas da língua pode dar-lhe um aspecto piloso. A alteração está relacionada com a hipertrofia das papilas filiformes, com retardo simultâneo da velocidade de descamação. Embora a língua pilosa seja idiopática, há vários fatores predisponentes, como tratamento com antibióticos de amplo espectro ou corticosteróides sistêmicos ou quando se usa com muita freqüência um colutório com peróxido.

Este véu pode mudar de cor se a pessoa fumar, mascar tabaco, ingerir certos alimentos ou então pelo desenvolvimento de determinadas bactérias na superfície da língua. Os sintomas em geral são mínimos, embora o paciente possa sentir uma sensação de cócegas ou náuseas, quando o alongamento das papilas torna-se exagerado. O diagnóstico é basicamente clínico e pode ser feito estudo citoló­gico e cultura para verificar se há colonização bacteriana.