O ouvido além de ser o órgão responsável pelo sentido da audição, tem a função também de manter nosso equilíbrio. Ele tem a função de converter ondas sonoras em impulsos nervosos, que ao atingirem o cérebro são interpretados como sons. Entre as dificuldades que interferem de forma significativa na comunicação dos adultos e idosos e na sua interação com os outros e com o mundo é a incapacidade auditiva, podendo causar diversas conseqüências para sua vida psicossocial, tal como a depressão, o isolamento, a frustração, a ansiedade e as alterações de comportamento, produzindo um grande impacto na vida dos idosos e de seus familiares. 

Presbiacusia A perda da sensibilidade auditiva associada ao envelhecimento é a presbiacusia, do qual deriva da palavra gregopresby = velho e akousis = audição. A presbiacusia é caracterizada por uma perda auditiva para os sons agudos, devido a mudanças degenerativas e fisiológicas no sistema auditivo com o aumento da idade. Isto é, lesões nas estruturas da orelha interna decorrente de uma degeneração neural da cóclea (órgão sensorioneural responsável pela percepção dos sons) interferindo na percepção auditiva de freqüências altas, mais acentuada acima de 1 KHz, podendo também haver diminuição menos intensa nas outras freqüências. Tanto a transmissão do som até o órgão sensorial quanto sua percepção e decodificação encontram-se comprometido com o passar do tempo. O ritmo de perda auditiva pode ser exacerbado por condições ambientais e também pode ser agravada por doenças sistêmicas como diabetes, alcoolismo, entre outras alterações metabólicas. A hereditariedade também inclui grande variedade de distúrbios que afetam mecanismos neurosensoriais. Acidentes vasculares relacionados à hipertensão, doenças cardíacas ou outros problemas vasculares podem afetar o fluxo sangüíneo do ouvido interno. A diminuição da audição também pode ocorrer pelo acúmulo de cera (cerúmem), o que é muito comum em idosos e de fácil tratamento, que deve ser removida por um profissional experiente. Também pode ocorrer a otosclerose, que é o envelhecimento dos três ossículos do ouvido, perda auditiva por intoxicação por medicamentos, tais como alguns antibióticos, anti-inflamatórios (aspirina) e determinados diuréticos (furosemida), otites, distúrbios vasculares e tumores. Estudiosos afirmam que a presbiacusia é um fenômeno de alta prevalência na população idosa sendo capaz de causar diversas dificuldades na comunicação oral e na interação familiar e social. A presbiacusia vem sendo apontada pela Política Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência como a principal causa de deficiência auditiva em idosos, com uma prevalência de cerca de 30% na população com mais de 65 anos de idade, este número sobe para mais de 50% acima dos 80 anos. Outros estudos apresentam estimativa de que 75% das pessoas acima de 75 anos apresentam mais altas perdas auditivas. Para alguns, o grau de perda auditiva pode ser profunda e constituir uma séria deficiência sensorial.

Conseqüências da perda auditiva A perda auditiva gera no idoso um dos mais incapacitantes distúrbios de comunicação, impedindo-o de desempenhar plenamente seu papel na sociedade, dificultando o compartilhar de conteúdos de informações, idéias, pensamentos, desejos e aspirações. É comum observarmos o declínio da audição acompanhado de uma diminuição frustrante na compreensão da fala do idoso, comprometendo sua comunicação com familiares e amigos, podendo não entender parte das conversas ao seu redor e imaginar que as pessoas estejam falando dele. A discriminação da fala é afetada em todos os casos e a inteligibilidade das palavras é afetada e pior será quanto maior for a perda auditiva A pessoa idosa pode tornar-se deprimida e desinteressada pelas suas atividades que sempre realizou durante a vida quando não consegue ouvir o que as outras pessoas estão dizendo. A falta de confiança em si mesmas e o medo de cometer erros levam a um sentimento de insegurança e baixa auto-estima, podendo até causar mudanças na sua personalidade e até mesmo na capacidade de se proteger no seu ambiente causando problemas de alerta e defesa, ou seja, para ouvir alarmes, panelas no fogo, telefone, campainha, veículos, etc. Muitas vezes as pessoas com perda auditiva com o avançar da idade podem fingir estar escutando o que os outros estão falando, quando na verdade não estão. É muito freqüente o familiar descrever o idoso com perda auditiva como confuso, desorientado, distraído, não comunicativo, não colaborador e zangado. Por isso é importante que os familiares conheçam as características da deficiência sensorial e suas implicações sociais e cognitivas na vida das pessoas idosas, porque a perda auditiva pode passar despercebida, uma vez que os idosos não se queixam de forma fidedigna da desvantagem associada à perda auditiva. Um aspecto importante a ser notado é que às vezes perdas cognitivas em funções tais como memória, linguagem, atenção, concentração, podem estar presentes juntamente com deficiência auditiva e têm implicações complexas na qualidade de vida das pessoas idosas.

 

Zumbido e vertigem A perda auditiva no idoso pode ser acompanhada de zumbido, o que em geral ocorre nos dois ouvidos e incomoda muito. O zumbido é um ruído contínuo e piora com o estado emocional. O zumbido caracteriza-se por um som de tonalidade aguda, um ruído contínuo, comparado ao som de uma cigarra ou um apito intermitente ou não e que se acentua no silêncio, especialmente à noite, dificultando o sono e o estado emocional. O próprio zumbido pode dificultar o entendimento da palavra, agravando ainda mais o problema. A perda auditiva e o zumbido, são respectivamente, o terceiro problema crônico mais freqüentemente encontrados nos idosos e há forte associação da incidência do zumbido com a presbiacusia. Também pode se agravar com a ingestão de álcool, cafeína e vários medicamentos, como por exemplo, alguns ant-inflamatórios. A otite é um processo infeccioso do ouvido geralmente provocado por bactéria. As otites infecciosas podem vir acompanhadas de tonturas, sensação de rotação, desequilíbrio e vômitos, o que caracteriza a labirintite, que se deve a problemas do labirinto. A labirintite é importante causa de quedas em idosos.

 

Avaliação da audição A avaliação das alterações auditivas inicia-se pelo simples exame clínico, passando por exames específicos para testar a capacidade auditiva através de testes clínicos como a audiometria tonal e a imitância acústica que detecta alterações no labirinto. É importante ressaltar que a avaliação audiológica convencional (audiometria tonal) e os testes de percepção de fala (logoaudiometria) avaliam o grau da perda auditiva, porém não revelam as dificuldades no desempenho e/ou na habilidade auditiva em atividades diárias, sendo, portanto, desconsideradas as dificuldades psicossociais decorrente da perda auditiva. Os estudos psicofísicos, apesar de numerosos, diversificados e sofisticados, ainda não fornecem um mapeamento satisfatório da percepção auditiva na velhice, entre elas a percepção de sonoridade, usada para o julgamento do paciente acerca do ambiente e da compreensão da natureza da deficiência auditiva pelo idoso na comunicação oral em situações sociais. Assim, a avaliação da percepção da incapacidade auditiva da pessoa idosa de forma breve, por parte dos profissionais da saúde, é uma forma fácil de investigar e documentar as desvantagens enfrentadas pelo idoso decorrente de perda auditiva. Assim, torna-se possível uma melhor conduta de orientação e de encaminhamento para avaliação e reabilitação audiológica. A audição também pode ser testada por familiares, de forma simples, a uma distância de mais ou menos 4,5 metros, com uma pessoa sussurrando algumas palavras. Uma pessoa com uma audição normal deve ser capaz de repetir estas palavras. É preciso observar atentamente se a pessoa está realmente ouvindo e não apenas fazendo a leitura de seus lábios.

 

Aparelhos para a surdez Uma forma de minimizar os efeitos negativos da deficiência auditiva é a utilização dos recursos tecnológicos que são os aparelhos de amplificação sonora individual (AASI) também chamados próteses auditivas. A efetividade dos aparelhos de amplificação sonora melhorou consideravelmente nos últimos anos. Atualmente, os aparelhos são equipamentos individualizados, digitais, programáveis, versáteis e com controles de fácil manipulação por qualquer pessoa, inclusive pelos idosos. Trazer o idoso de volta ao mundo da comunicação verbal significa tirá-lo do isolamento imposto pela perda auditiva, permitindo-lhe o acesso à linguagem que o envolve. Um programa de reabilitação auditiva torna-se importante no sentido de auxiliar o idoso a se adaptar com o aparelho de amplificação sonora e a ajudar os familiares a lidarem com as dificuldades resultantes da perda auditiva, contribuindo para boa qualidade de vida do idoso e seu bem-estar físico, mental e social.

Como a família pode ajudar na comunicação da pessoa com perda auditiva: • Preste bem atenção na pessoa quando ela falar, não tente dar atenção a outra tarefa, quando conversar com a pessoa com perda auditiva; • Fique sempre de frente para a pessoa, fale devagar e com a voz baixa, não grite; • Use gestos, figuras, listas de palavras e outras formas para se expressar, se necessárias; • Faça pausas, seja repetitivo se for preciso; • Peça para a pessoa repetir o que lhe foi dito para ter certeza de que ele realmente entendeu o que foi falado; • Converse em lugares tranqüilos, sem muito barulho; • Ao explicar uma tarefa, faça da forma mais simples e devagar para não confundir; • Nos casos de uso de aparelhos, certifique se as pilhas estão precisando trocar. Verifique as datas em que as últimas baterias foram trocadas; • Não tente retirar a cera do ouvido com objetos; • Não restrinja suas atividades sociais somente por causa da perda auditiva, o isolamento social compromete a qualidade de vida da pessoa idosa e agrava a dificuldade de comunicação.